Infertilidade: um problema mais comum do que você imagina
Estima-se que cerca de 8 milhões de pessoas no Brasil podem ser inférteis. A proporção é equilibrada tanto para mulheres quanto para homens e as causas variam muito, podendo estar associadas a problemas com a produção de óvulos e/ou espermatozoides, doenças no sistema reprodutivo, anomalias genéticas e congênitas, deficiência hormonal, questões emocionais e psicossomáticas, além da idade avançada.
A preocupação aparece quando as tentativas de engravidar permanecem sem sucesso depois de 12 meses de tentativas, ou após 6 meses, caso a mulher tenha mais de 35 anos, sem uso de métodos anticonceptivos.
Para descobrir quais os possíveis motivos, é importante procurar ajuda médica de um especialista em reprodução humana para avaliar o que está afetando o processo.
Além disso, há dois tipos de infertilidade:
- Primária, quando a pessoa ou casal nunca teve filho anteriormente;
- Secundária, quando uma pessoa ou ambas já tiveram filho antes, mas não estão conseguindo agora.
Em qualquer uma das situações, é importante que seja realizada uma investigação de forma conjunta para serem descobertas as causas da dificuldade para engravidar.
Investigação da fertilidade feminina
Muitas mulheres acreditam que a culpa da infertilidade é apenas delas, o que não é verdade, visto que a infertilidade deve ser sempre vista como do casal.
Estima-se que apenas 40% das questões de infertilidade de um casal estão relacionadas a problemas exclusivamente femininos. No processo de investigação, alguns exames são solicitados à mulher, como a dosagem hormonal, ultrassonografia transvaginal e histerossalpingografia para avaliar possíveis causas ligadas à infertilidade por fatores femininos.
As principais causas de infertilidade na mulher são:
- Alterações hormonais, como na disfunção da hipófise que pode causar alterações na produção e liberação dos hormônios FSH (Hormônio Folículo Estimulante) e LH (Hormônio Luteinizante), problemas na tireoide como o hiper e hipotireoidismo sem tratamento, além da hiperprolactinemia (aumento da liberação do hormônio prolactina);
- Alterações na secreção do muco cervical que ajuda na movimentação dos espermatozoides até o óvulo;
- Disfunções ovulatórias, como a anovulação (ausência de ovulação) e a menopausa precoce;
- Doença e obstrução tubária (trompas obstruídas);
- Endometriose, quando o tecido que reveste o interior do útero cresce fora da cavidade uterina;
- Estilo de vida, como alimentação inadequada, estresse excessivo, tabagismo, uso de drogas, obesidade ou desnutrição;
- Idade avançada, já que a partir dos 35 anos a mulher tem uma queda no potencial reprodutivo;
- Infeções sexualmente transmissíveis, como clamídia e gonorreia que, quando não tratadas, podem ocasionar problema no útero e nas trompas, provocando gravidez ectópica, parto prematuro e até esterilidade por obstrução das trompas. Além disso, o HPV pode causar câncer de colo do útero;
- Pólipos endometriais, uma protuberância no interior da cavidade uterina, e miomas, nódulos geralmente benignos que se formam no útero;
- Síndrome dos Ovários Policísticos, um distúrbio hormonal que causa o aumento dos ovários.
Após o diagnóstico, o profissional de saúde recomenda o tratamento mais indicado para tratar a causa e pode sugerir um procedimento para auxiliar na tentativa da gravidez.
Investigação da fertilidade masculina
Para o homem, lidar com a fertilidade não é algo comum, por isso, há resistência para fazerem exames diagnósticos. A proporção para os homens terem problemas com a fertilidade é igual a das mulheres, ou seja, 40% das questões de infertilidade de um casal estão relacionadas a problemas exclusivamente masculinos.
Na investigação são solicitados exames como a avaliação hormonal, espermograma, teste de função espermática e ultrassonografia da bolsa testicular. Assim é possível chegar às causas ligadas à infertilidade por fatores masculinos.
As principais causas de infertilidade no homem são:
- Alterações hormonais como disfunção da hipófise, do hipotálamo e das glândulas suprarrenais, variações nas taxas de testosterona, problemas na tireoide como hiper e hipotireoidismo sem tratamento;
- Azoospermia, ou seja, a ausência de espermatozoides no sêmen;
- Criptorquidia, malformação que ocasiona posicionamento incorreto de um ou dos dois testículos;
- Estilo de vida: alimentação inadequada, estresse excessivo, tabagismo, uso de drogas, obesidade ou desnutrição;
- Fatores genéticos: desordens cromossômicas, mutações genéticas e microdeleções do cromossomo Y (perda de uma parte do DNA de um cromossomo);
- Idade avançada, após os 50 anos há uma mudança na produção de espermatozoides afetando a qualidade;
- Infecções, como a urinária, orquite (no testículo), prostatite (na próstata), uretrites (na uretra), além das infeções sexualmente transmissíveis como gonorreia e HIV que podem interferir na qualidade do esperma;
- Obstrução dos ductos ejaculatórios, entre os testículos e o pênis;
- Tumores;
- Varicocele, que é a dilatação anormal das veias do testículo.
Realizar os exames específicos é fundamental para identificar as causas da infertilidade.
Infertilidade do casal
Quando toda a investigação dos parceiros tiver sido concluída, poderemos constatar se um deles ou ambos têm questões que comprometam a fertilidade.
Estima-se que 1 a cada 5 casais enfrentam problemas com fertilidade. São cerca de 20% dos casais em idade reprodutiva.
E ressaltamos: a infertilidade é conjugal e baseada na relação atual.
Entendendo os diagnósticos e sabendo todo o contexto do casal, é possível traçar tratamentos e alternativas para que o sonho de ter filhos seja possível.
Principais tratamentos da infertilidade
Ao passarem pela investigação da infertilidade e com os diagnósticos em mãos, se torna viável decidir juntamente com o médico e o embriologista qual é o melhor método a ser utilizado. O tratamento varia de caso para caso e pode ser: clínico, cirúrgico ou com a utilização de técnicas de reprodução assistida, de baixa ou alta complexidade.
Tratamentos clínicos:
- Corrigir as alterações hormonais ou inflamatórias.
- Indução de ovulação por uso de medicamentos, nos casos de anovulação. Geralmente de baixo custo, o remédio estimula a produção de óvulos durante o período fértil da mulher. Assim, há o aumento da quantidade de FSH que incita o crescimento e maturação dos óvulos. Nesses casos, é fundamental orientar o casal a manter uma frequência de 2 a 3 relações sexuais por semana, próximo ao período fértil.
Tratamentos cirúrgicos:
- Para muitos casos de tumores, miomas, pólipos, criptorquidia, obstrução das trompas e ductos ejaculatórios, a indicação de realização de cirurgia pode estar indicada.
- Nos casos de endometriose, dependendo do local da doença e da idade da paciente, pode se ter como indicação uma cirurgia videolaparoscópica ou a realização de Fertilização in Vitro (FIV).
- No tratamento da varicocele, muitas vezes pode ser preciso fazer uma varicocelectomia, procedimento microcirúrgico para interromper o fluxo de sangue que vai para a veia dilatada afetada do testículo e redirecionar para veias normais.
Tratamentos como as técnicas de reprodução assistida de baixa complexidade:
- Coito programado (CP) – quando há problemas de ovulação e a frequência sexual do casal é baixa. A ovulação é estimulada para que produza mais óvulos e, através de análise com ultrassonografia seriada, é indicado o melhor momento para ocorrer a relação sexual e aumentar o sucesso da gestação.
- Inseminação Intrauterina (IIU) – a ovulação é estimulada para que produza mais óvulos e, através de análise com ultrassonografia seriada, é indicado o melhor momento para a inserção, dentro do útero, de espermatozoides capacitados em laboratório, próximo do momento da ovulação. É pouco invasiva e ajuda em casos em que a mulher tem problemas com o muco cervical ou os espermatozoides têm alterações leves ou moderadas.
Tratamentos como as técnicas de reprodução assistida de alta complexidade:
- Fertilização in Vitro (FIV) – a fecundação do óvulo pelo espermatozoide é realizada fora do corpo da mulher, no laboratório: é o chamado “bebê de proveta”. Os óvulos são retirados e colocados juntamente com os espermatozoides do parceiro (ou do doador) em placas de cultivo para que a fecundação aconteça. Depois, os embriões são transferidos para dentro do útero. É um processo que dura cerca de duas semanas.
- Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) – é uma variação do processo da fertilização in vitro, quando o embriologista injeta um espermatozoide diretamente dentro de cada óvulo. É indicada nos casos de infertilidade masculina, quando as alterações dos espermatozoides são muito acentuadas.
Importante ressaltar que a reprodução assistida é direito de todos! A técnica de Fertilização in Vitro possibilita, ainda, que casais homoafetivos tenham seus bebês e realizem o sonho da maternidade/paternidade.
Além disso, o casal pode optar pela criopreservação de sêmen e/ou óvulos, caso queiram adiar os planos de engravidar para mais tarde, sem comprometer a quantidade e a qualidade dos óvulos e espermatozoides. Outra opção é o uso de bancos de sêmen e óvulos, nos casos da falta destes gametas próprios, em quantidade ou qualidade, ou para produção independente (pai ou mãe sem parceiros).
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